A Guerra dos Espumantes

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Nem todos espumantes podem ser chamados de Champanhe, Cava ou Prosecco. Para serem chamados desta forma, o método de produção precisa seguir um conjunto de regras definidas e reconhecidas internacionalmente e, mais importante, precisa ser produzido em determinada região. Esse conjunto de fatores se chama “denominação de origem controlada” ou simplesmente DOC.

Apesar disso, existem algumas batalhas entre países que querem usar o mesmo nome para definir um espumante que não segue todas as regras. É o caso da Rússia ou da Croácia.

Descubra mais sobre esses casos abaixo.

Champanhe Francês x Champanhe Russo

Tsar Nicholas II

Em 2021 Vladimir Putin assinou uma lei que define que o Champanhe é aquele feito na Rússia, ou seja, o espumante francês, reconhecido mundialmente e feito na região de champagne não é mais o champanhe original. A história da Rússia com champanhes data da época dos Czares, em que a elite do país venerava os champanhes franceses. Em tempos de União Soviética o país conseguiu desenvolver uma bebida espumante produzida massivamente que era acessível para o povo, de forma geral – a ideia era fazer o proletariado poder consumir itens similares a que consumia a aristocracia russa. A história inteira você encontra aqui e é muito interessante!

Claro, no Brasil temos o costume de chamar quaisquer espumantes de champagne (quem nunca estourou um Sidra no ano novo chamando de champagne né?), mas não é bem assim. Um champanhe original, além de produzido na região homônima, deve seguir diversas regras, que definem a pressão de envase da garrafa, o tipo de poda usado nas vinhas, as uvas que podem ser utilizadas, como fermentar e diversas outras regras. O champanhe foi a primeira bebida a ser internacionalmente com o selo de DOC – Denominação de Origem Controlada.

Não quer dizer que outros espumantes não possam se inspirar no método usado para o champanhe, e é por isso que alguns espumantes utilizam termos que referenciam o método Champenoise, que junto do Charmat são os dois métodos mais conhecidos para se fazer espumantes.

Prosecco Italiano x Prosek Croata

Recentemente o Croatas lançaram espumantes que utilizam o mesmo método que o Prosecco Italiano. Mas além do método os produtos também adaptaram o nome da bebida italiana para a língua local e a batizaram de “Prosek”. Por conta disso, o ministro de políticas Agrícolas, Alimentares e Florestais da Itália pedindo que os outros países da União Européia avaliem negativamente esta ação dos croatas e não reconheçam a bebida.

A briga entre Itália e países do leste europeu, porém, não é de hoje. No passado a Itália foi impedida de chamar um tipo de vinho de “Tocai”, que em húngaro se chama “Tokaji” e se lê como no italiano. Este é chamado de “rei dos vinhos, vinhos dos reis” e deve ser produzido na região homônima da Hungria/Eslováquia. É um vinho feito com uvas afetadas por um certo tipo de fungo em um solo extremamente rico em mineiras, quando pronto tem alta concentração de açúcares não fermentados (ou seja, DOCE) e podem ser guardados por séculos. Inclusive, algumas garrafas dos séculos XVIII são adquiridas por colecionadores por valores altíssimos.

Espumantes Brasileiros

Os vinhos espumantes brasileiros são muito reconhecidos internacionalmente e vem ganhando diversos prêmios, ano após ano. A região mais famosa por aqui e que produz os melhores espumantes encontra-se no Rio Grande do Sul, próximo a Bento Gonçalves. Não temos um só método e produz-se através do Champenoise e do Charmat.

Antigamente o Brasil produzia espumantes que puxavam mais para notas de dulçor, mas há alguns anos já podemos encontrar alguns Brut deliciosos e em todas as faixas de preço. É possível encontrar linhas especiais da Salton e também linhas muito baratas. A Casa Valduga também oferece espumantes muito reconhecidos, assim como a Casa Perini e outras vinícolas da região.

Porém, não é só o sul do Brasil que vem produzing excelentes espumantes. Algumas regiões do Vale do São Francisco na Bahia/Pernambuco ou na Serra da Mantiqueira em São Paulo e Minas Gerais, vêm se despontando com bebidas de extrema qualidade! Beba sem medo que temos coisas muito boas.

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  1. Caro Diego Dacal
    Gostei muito do post. Parabéns !
    Tres observações. 1) O fungo botrytis cinerea responsavel pelos deliciosos e unicos vinhos de Tokay e Sauternes… não depende só da mineralidade, e sim das condições de humidade. A ação do fungo concentra acidez e açúcares… e desidrata as uvas. O resto tem a ver com o método de elaboraçao e as caves onde são elaborados. (Tokay)
    2 ) A categoria BRUT nos espumantes, implica um certo açúcar residual adicionado
    3 ) Sugiro ser menos superlativo chamando de “excelente” os vinhos da regiao do nordeste. Sem querer ser snob, mas um espumante seja pelo metodo tradicional, champenoise e até Charmat, para ser EXCELENTE, precisa de um certo grau de acidez elevada que o clima do nordeste nao favorece.
    Enoabraços
    Sommelier Mike Taylor
    http://www.miketaylorwines.com

    1. Obrigado pelo comentário, Mike! Sobre o “excelente”, isso vai muito de gosto pessoal, momento, companhia e food-pairing, não é? Nem sempre uma acidez abaixo do espero representa baixa qualidade, representa sim um desvio do esperado, porém podem ser igualmente excelentes.

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